terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DA FAMILIA GRENVIL

GENEALOGIA
História da Família Grenvil

GIOVANNI GRENVIL * 23.02.1834, VENEZIA – ITÁLIA Orfanato Istituto Provinciale per l`Infanzia Santa Maria della Pietà – Venezia – Itália. + 11.04.1902, Farroupilha, RS – BRASIL MARIA LUIGIA BALBINOT * 17.10.1847, Santa Croce del Lago, BL -Itália Filha de ANGELO BALBINOT E DOMÊNICA BALBINOT + 23.06.1907 – Farroupilha, RS – Brasil.


GIOVANNI GRENVIL – LA VERA STORIA.
Manifestazione della direttrice dell’archivio storico della Pietà (Istituto Provinciale per l`Infanzia Santa Maria  della Pietà),   Debora Pase su GIOVANNI GRENVIL.
        “Tutti i bambini della Pietà fino al 1807 avevano un cognome unico ovvero dalla Pietà o il pio dal pio loco.
        Dal 1807 Napoleone, durante la denominazione francese di Venezia, introduce per decreto una nuova norma che prescrive che tutti i bambini esposti, quindi bambini illegitimi, abbiano un cognome che non denote la loro origine illegitima. Quindi dal 1807, i bambini della Pietà hanno un cognome che era un cognome inventato ottenuto o da nomi di piante, di fiori o presi la passione.
        In questo caso ad esempio Grenvil, probabilmente è stato proprio composto prendendo sillabe provenienti di altri cognomi fino a formare un cognome che dovrà avere solo quello esposto. Infatti facendo una ricerca con questo cognome non si troveranno altri rami familiari o se ciò viene è una casualità perché l`idea era proprio quella di dar un cognome, poi con quel cognome con quel esposto maschio o femmina che fosse, in particolare maschio perché poi dava il cognome, iniziava una nuova famiglia.
        È stato portato qui in istituto alla Pietà il 25 febbraio, alle sei di sera e era vestito di stracci a solo una strisca di tela bianca formata per fascia, unpaniselo e una piccola immagine sacra di San Vincenzo Ferrari, che era un santo cui culto era molto diffuso qui in Italia, in particolare modo a Venezia e dietro aveva scritto quando era nato: il 25 febbraio 1834. Quindi viene portato qui appena nato. Nel registro di battesimo che è datato il giorno successivo, quindi il 26 febbraio sempre del 34, abbiamo anche le notizie relative a dove è nato e come è arrivato qui alla Pietà. È stato portato da una allevatrice, quindi dalla ostetrica che l`aveva fatto nascere che se chiamava Anna De Agostini, che era una allevatrice di castello e aveva già ricevuto il battesimo da lei. Quindi probabilmente questo bambino si trovava in pericolo al momento della sua nascita ed è stato battezzato subito. Dopo di che viene ribattezzato dal cappellano dell`istituto che si chiama Angelo Venzon/Venzona e viene portato lo stesso giorno, quindi il 26 febbraio 1834 da una balia. Una balia di Santa Giustina di Feltre, quindi nella provincia sempre di Belluno che si chiamava Teresa, moglie di Gregorio Funadi.
E non abbiamo più notizie perché i due registri si interrompono. Sappiamo però che il 1856 l`istituto paga i premi, quindi quando il ragazzo compie 18 anni, viene emancipato dall`istituto. Non è ancora maggiorenne ma viene pagato una somma di denaro che dovrà essere divisa” entre parti: una parte al parroco, una parte alla balia, che nel frattempo probabilmente o si è trasferita o è cambiata perché il pagamento avviene a Farra dal Pago, che paga lo stesso pregio dove lui si sposerà e avviene nel 1856 ed e l`ultima notizia che abbiamo su di lui.”
TRASCRIZIONE: DIRCE TERESINHA MARTINELLI
PORTUGUÊS: MANIFESTAÇÃO(DEPOIMENTO) DA DIGNA DIRETORA DEBORA PASE DO INSTITUTO sobre GIOVANNI GRENVIL. 
“Todas as crianças  do instituto  até 1807, tinham um sobrenome único, que caracteriza esse lugar, ou ainda recebiam um de um benfeitor daquela localidade.
A partir de 1807, Napoleão, durante a dominação francesa de Veneza, introduz por decreto uma nova norma que prescreve que todas as crianças abandonadas,  ilegítimas, tenham um sobrenome que não denote a sua origem. Portanto, desde 1807, as crianças do instituto têm um sobrenome inventado, obtido de nomes de plantas, de flores ou constituído de partes de outros sobrenomes.
Neste caso, por exemplo Grenvil provavelmente foi composto pegando sílabas de outros sobrenomes até formar um sobrenome novo, que somente aquele abandonado deveria ter. De fato, fazendo uma pesquisa com esse sobrenome não se encontram outros ramos familiares; ou, se isso acontece, é uma casualidade, porque a ideia era exatamente dar um sobrenome distinto, e com ele, o abandonado em questão, masculino ou feminino - em particular masculino porque depois o transmitia -  iniciaria uma nova família.
        Foi trazido aqui a este instituto dia 25 de fevereiro de 1834, às 18h e estava vestido com trapos, tinha somente uma tira de tecido branco, uma faixa, uma fralda e  uma pequena imagem sagrada de São Vicente Ferrari, que era um santo cujo culto era muito difundido aqui na Itália, particularmente em Veneza, e atrás desta estava escrito quando tinha nascido: 25 de fevereiro de 1834. Portanto, foi trazido aqui logo que nasceu. No registro de batismo, que é datado do dia seguinte, ou seja, de 26 de fevereiro de 1834, temos também as notícias relativas ao local onde nasceu e como chegou ao instituto: foi trazido pela parteira que o tinha feito nascer, Anna De Agostini, uma parteira de castelo e já tinha recebido dela o batismo. Provavelmente esse menino estava em situação de risco no momento do nascimento e por isso foi logo batizado. Depois foi batizado novamente pelo capelão do instituto, chamado Angelo Venzon e foi levado no mesmo dia, 26 de fevereiro de 1834, por uma ama de leite. Essa era de Santa Giustina de Feltre, província de Belluno e se chamava Teresa, esposa de Gregorio Funadi.
Não temos mais notícias porque os registros são interrompidos. Sabemos, contudo, que em 1856, o instituto paga os prêmios. Quando o rapaz completa 18 anos é emancipado pelo instituto. Ainda não tem a maioridade, mas é paga uma quantia em dinheiro que deverá ser dividida entre partes: uma para o pároco, uma para a ama de leite, que nesse meio tempo provavelmente se transferiu ou se mudou, porque o pagamento é feito à Farra dal Pago, onde Giovanni se casará, e uma parte para Giovanni. Isso  acontece em 1856 e é a última notícia que temos dele.
AUTORA: DIRCE TERESINHA MARTINELLI

COMENTÁRIO = “UN FIGLIO DI NESSUNO” - GIOVANNI GRENVIL – A VERDADEIRA HISTÓRIA – 0 emocionante  depoimento da diretora  Debora Pase quando da visita  feita ao Instituto  em março de 2013,  pelas minhas filhas, Liliane e Liége,  dispensaria outros acréscimos.  Diante, contudo,  das equivocadas informações contidas no livro Bellunesi Nel Mondo (páginas 23/24), está a merecer mais algumas importantes considerações a respeito do assunto. O bisnono não foi criado  no Orfanato de Veneza, mas adotado, desde o segundo dia de vida, por Teresa Funadi (ama de  leite), esposa de Gregório Funadi, residente na comune de Santa Giustina de Feltre, Província de Belluno. Não tinha e não teve família.  Na verdade, GIOVANNI GRENVIL É UM FILHO DE NINGUÉM – UN FIGLIO, DI NESSUNO – OU SEJA, UMA CRIANÇA ABANDONADA  pela mãe, LOGO DEPOIS do nascimento.  Segundo apurado pelas  filhas  LILIANE E LIEGE, por ocasião da visita  feita ao Instituto, em março de 2013 o cognome GRENVIL foi inventado, como bem explicado pela diretora do Instituto, Debora Pase.  Não existe  esse cognome na Itália, considerando que GIOVANNI não deixou, ao emigrar,  descendentes da família na pátria  mãe. Assim, todos os descendentes de  GIOVANNI GRENVIL  e  MARIA BALBINOT,  grafados no Brasil, como  GRANVIL, GRANVILE  GRANVILLE e   GRANVILLA pertencem e fazem parte  de um grande e  único tronco ancestral  comum. Enfim, seria tarefa impossível  descobrir o nome dos pais dele, nem mesmo nome da mãe. Na verdade  foi   uma criança simplesmente abandonada  ao nascer.  Essa é a história de centenas de outras  crianças nascidas naquela  época.  O consolo é que o nosso bisnono teve a sorte de ter sido muito bem criado pelos pais adotivos Tereza e Gregório Funadi.  Ademais foi um  bravo  e corajoso emigrante que deixou no Brasil cerca de 3.000 descendentes.  Viveu 66 anos.  Para a época uma façanha.
AUTORIA. ISRAEL GRANVILLE

FOTO DOCUMENTANDO  O    EMOCIONANTE  ENCONTRO EM VENEZA, EM MARÇO DE 2013, NA BUSCA DE INFORMAÇÕES COMPLMENTARES SOBRE GIOVANNI GRENVIL


LILIANE, STEFANIA POMIATO, MARCO FRISELLE, LIEGE.

INTRODUÇÃO

GENEALOGIA

AGRADECIMENTOS

Eis aqui a parte mais difícil do trabalho. Agradecer a todos os que  colaboraram, de uma maneira ou outra, na construção da história da família, com o envio de fotos e dados.

É impossível citar todos. Muitos foram espontâneos, rápidos, atenciosos e cientes da importância de deixar registrada a história dos ancestrais e de seus descendentes. Outros, infelizmente, desinteressados no assunto ou que só depois de muita insistência, através de correspondências, e-mails e telefonemas, proporcionaram contribuições que foram também importante.

Alguns já tiveram citação neste livro. Gostaria, mesmo assim, de agradecer a todos e dizer-lhes muito obrigado. Merecem agradecimentos especiais: o pesquisador Imir Mulato, residente em Ceggia, Veneza, Itália, que, além de conseguir alguns documentos importantes, como a certidão de batismo e de casamento de Giovanni Grenvil (Veneza e Santa Croce del Lago, Itália), ajudou na tradução e redação de boa parte das correspondências que dirigimos a pessoas ou órgãos da Itália. Pessoa extremamente atenciosa, permitiu, com sua ajuda, levar a bom termo o trabalho. A ele o reconhecimento e um agradecimento todo especial.

Salete Cleusa Bona, professora da Universidade de Passo Fundo, RS, que, apesar de todo o trabalho que desenvolve na UPF, reservou algum tempo e disposição para auxiliar a dar forma ao projeto, inclusive com sugestões e correções, abrindo, enfim, caminhos para a construção da história da família, da qual, aliás, também, faz parte.

Carlos Henrique Rezende Nozari, membro ativo do Instituto Genealógico do Rio Grande do Sul, que, além de fazer inúmeras sugestões e correções, relacionou todos os nomes em programa de computador, sistema PAF, o que permitirá incluir o trabalho, no futuro, em site na internet. Merece, pelo seu interesse, pelo seu desprendimento, pela colaboração desinteressada, os melhores agradecimentos.

A Associação Bellunese Nel Mondo (Sede em Belluno, BL, Itália), pelo envio de farta documentação sobre Farra D`Alpago, Província de Belluno, além da remessa por cerca de um ano, gratuitamente, da sua revista.

Quando solicitada sempre o fez de maneira atenciosa, disposta e interessada em ajudar na descoberta dos ancestrais na Itália. Merece, por isso, destaque especial.

Dirce Martinelli, professora, que, sem qualquer interesse econômico, colaborou na correção, tradução e versão de vários textos para o idioma italiano. Merece, por tudo isso, um especial muito obrigado.

Ao Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs – Província Lassalista de Porto Alegre, RS, pela remessa do livro Linha Palmeiro – Microrregião da colonização italiana Bento Gonçalves e Farroupilha, RS, de autoria do prof. Hermínio Dall`Agnoll Decò.

Através desse belo livro descobriu-se a exata localização da família no Brasil e outras preciosas informações, algumas das quais transcritas neste trabalho.

Às minhas filhas Liége e Liliane, que deram importantes contribuições através de correções e sugestões e, especialmente, em relação à organização do trabalho. Á minha irmã Iracema, que iniciou as pesquisas da família por volta de 1990. Ao meu irmão Abel, que nos acompanhou nas viagens realizadas às cidades de Putinga, Anta Gorda, Araçá, Arvorezinha, Progresso, Ilópolis, Itapuca (Distrito de Anta Gorda), Fontoura Xavier, Trindade do Sul, Nonoai, Liberato Salzano, Farroupilha e Bento Gonçalves.

Enfim, resta reiterar agradecimentos a todos pela colaboração na construção da história da família, a qual, hoje, depois de 126 anos da chegada ao Brasil, ultrapassa 1200 membros. A todos, o meu muito obrigado.
-
Família, a árvore da vida

     A família tem como origem um tronco inicial, que constitui a base, os alicerces de todos os demais, o que, em termos de genealogia, é denominado de árvore genealógica.


     Desse marco inicial, nascemos, crescemos, vivemos e dele brotam novos galhos para perpetuar a espécie. Esses galhos geram novas famílias, que constituem o conjunto de pessoas originárias de um mesmo ancestral comum, as quais seguem mais de perto o nosso caminhar.


      Algumas pessoas desses grupos familiares percorrem ao nosso lado, vendo muitas luas passarem, outras apenas vemos entre um passo e outro.


      À medida que se retrocede rumo ao tronco inicial, quanto mais remoto, todas as pessoas de cada núcleo são apenas lembradas como parte importante da história da família. Sem elas nós não estaríamos hoje aqui.


     O primeiro galho, partindo do último tronco conhecido que brota, é o pai e a mãe: mostram e ensinam o caminho, o que é a vida. Depois vem o irmão, com quem dividimos os nossos espaços para que ele floresça como nós.


      Passamos a conhecer as pessoas integrantes do núcleo familiar. São os bisavós, trisavôs, estes últimos que poucos têm a felicidade de conhecer pessoalmente; já os avós, conhecidos por muitos, são aqueles que, por todas razões conhecidas, também respeitamos, até porque se constituem, muitas vezes, em nossos maiores protetores.


      Depois são os tios, os primos, estes últimos, principalmente, com quem, normalmente, temos a felicidade de conviver por um tempo mais longo.


      Na família sabemos de antemão com quem primeiro cruza o nosso caminho. Muitos desses são designados amigos do peito, do coração, pois são sinceros, verdadeiros amigos, por força do próprio laço de sangue. E sabem quando não estamos bem, sabem o que nos faz feliz.


     Alguns permanecem por poucas estações. Lembranças e saudades daqueles que se foram, pelos momentos maravilhosos, enquanto cruzavam os nossos caminhos.


     O presente estudo, que durou mais de cinco anos, foi possível com muito trabalho e a colaboração de muitos, descobrir a origem dos an-cestrais a partir de Veneza e Santa Croce del Lago/Farra D`Alpago, província de Belluno, Itália.
        Ninguém sabia de onde vieram seus avós, em que condições emigraram ao Brasil e onde se estabeleceram aqui. Tudo era interrogação. Depois de intensivas pesquisas, aqui e na Itália, acabou sendo resgatada, ainda que incompleta, a história da família, que já havia sido perdida no tempo. Não foi num momento de mágica, mas uma jornada de descobertas.
     Como diz Coelho Neto, “a família é o núcleo ou gérmen da sociedade. Nela é que se formam todas as virtudes e se amolda o caráter, que é a afeição da alma”.
      Que você possa ter um minuto de reflexão sobre as coisas da vida e possa pensar o quanto há para sonhar e ser feliz, pois o eu e o você serão sempre o nós.

Capítulo I

Origens da família Giovanni Grenvil e Maria Luigia Balbinot


Origens da família Giovanni Grenvil e Maria Luigia Balbinot Giovanni nasceu em Veneza e Maria Luigia Balbinot, em Santa Croce Del Lago/FarraD`Alpago, província de Belluno, Itália. Contraíram casamento na paróquia de Santa Croce Del Lago em 10.02.1870, consoante certidão de casamento adiante transcrita.
      A família imigrou para o Brasil da Commune de Santa Croce Del Lago, no ano de 1878. Com o casal vieram os filhos Pietro, Angela Luigia e Osvaldo, todos nascidos em Santa Croce Del Lago (ver a árvore genealógica). Estabelecem-se em terras localizadas na linha Palmeiro, que hoje faz parte do município de Farroupilha, RS (ex-Nova Vicenza), mais precisamente, no lote número 133, próximo ao Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio, onde nasceram mais cinco filhos.
      O pesquisador professor Hermínio Dall`Agnol Decò (Linha Palmeiro–Microrregião de Colonização Italiana – Bento Gonçalves e Farroupilha, RS, Ed. La Salle, 1994, p. 121), relata: “A primeira capelinha, de madeira, foi construída em 1879, um ano após a chegada dos primeiros 40 imigrantes italianos, que ocuparam os lotes de 126 a 164, os quais atingiam uma área entre as atuais igrejas de São Marcos e de Todos os Santos.”
      Entre as primeiras famílias do território da Capela de Todos os Santos (DECÒ, p. 22) figuram os nomes de Luigi Balbinot e Vicenzo Balbinot, provavelmente irmãos de Maria Luigia Babinot. Na página 22 da mesma obra, aparecem entre os moradores na linha Palmeiro, no lote 133, Giovanni Granville e, no lote 135, Luigi Balbinot, este, provalvemente, como acima dito, irmão de Maria Luigia Balbinot.
      A linha Palmeiro tem início em Barracão (bairro periférico de Bento Gonçalves, RS), estendendo-se em direção a Caxias do Sul, até seus últimos lotes 199 e 200 (DECÒ, 1994).
      Existem nos livros de assentamentos de casamentos, nascimentos e óbitos do Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio inúmeros registros de descendentes da família de Giovanni Grenvil (casamentos de Pietro, de Angela Luigia, óbito de Maria Luigia Balbinot etc.).
      Na paróquia de Santo Antonio de Bento Gonçalves, RS (arquivos da Diocese de Caxias do Sul, RS), foram encontrados os registros de batismo de quatro dos descendentes de Giovanni, nascidos em Farroupilha, RS.
      No Cartório de Bento Gonçalves foi encontrado o registro de óbito de Giovanni Grenvil (João Granville), falecido em 1902 na linha Palmeiro.


Localização da família
-
Fonte: DECÓ, 1994, p. 176
-
Descendentes da família Balbinot
-

Fonte: DECÒ, 1994.

Giovanni Granville (Lote 133), Luigia Balbinot (Lote 135)
-

Fonte: DECÒ, 1994
-
Barracão – Início da linha Palmeiro
-

-
Fonte: DECÒ, 1994, p. 21.

O nome “linha Palmeiro”, segundo pesquisa de Decò (p. 29), origina-se do sobrenome de um funcionário do governo responsável pelo assentamento das terras devolutas do governo imperial
-
1.1 Confusão de nomes e cognomes

Giovanni Grenvil foi criado no orfanato Istituto Provinciale Per L´Infanzia Santa Maria Dela Pietà, de Veneza, Itália. Era conhecido em Farroupilha, RS, por vários nomes e cognomes: Giovanni Granville, João Granvilla, Granvile, Giuseffe Granville. Os dois últimos nomes estão registrados nas certidões de óbito de Maria Luígia e Pietro (Pedro).

A confusão começou com Pietro (Pedro), que, no casamento religioso, (paróquia de Nossa Senhora do Carravaggio), está grafado “Granvile”. Os descendentes dele, à exceção de João, grafado “Granville”, tiveram o cognome alterado para “Granvilla”.

Já, em relação a Osvaldo, no matrimônio religioso teve grafado o cognome “Granvile”; no registro cível, “Grenvil”. Não obstante, todos os seus descendentes e dos respectivos irmãos são grafados como “Granville” e alguns poucos como “Granvile”, “Gramville”. Verifica-se ainda que os cinco filhos de Giovanni Grenvil, nascidos em Farroupilha (exceto Augusta – certidão não encontrada), foram batizados com o cognome “Granvile”.

No caso de Osvaldo, a confusão de cognomes já começou na própria Itália. Na paróquia de Santa Croce Del Lago, Farra D´Apago, em Belluno, Itália, ele foi batizado como “Grenville”. No registro de nascimento (Certificato de Nascita de Farra D´Alpago, província de Belluno, Itália), consta o cognome “Granvil”. Como se vê, tanto os registros no Brasil como os realizados na Itália, especialmente o de Osvaldo, contêm inúmeros erros.

Não se encontraram na Itália ascendentes com os cognomes “Grenvil”, “Grenville”, “Granvil”, “Granvile” ou “Granville”. Tudo isso dificultou a descoberta da origem da família.


Apesar de ter sido Giovanni criado em orfanato, segundo conta Raimundo Granville (7.7), no mesmo dia em que a família dele emigrava para o Brasil, uma das irmãs teria emigrado para os Estados Unidos (Nova Iorque). Diz ele que ouviu muitas vezes do seu pai essa história e que, inclusive, Giovanni teria mantido vários contatos com a irmã, o que leva a crer que, apesar de criado em orfanato, possuía família.


De outro lado, existem na Itália, especialmente em Farra D´Alpago/ Santa Croce Del Lago, província de Belluno, numerosas famílias com o cognome “Balbinot”. Não se descobriu, todavia, até agora, se algum dos Balbinots que lá vivem têm vínculo de parentesco com Maria Luigia Balbinot.
-
1.2 Farroupilha – síntese histórica

No último quarto do século XIX, a maior parte do Rio Grande do Sul já estava razoavelmente habitada. O Planalto, no entanto, possuía ainda largas regiões inexploradas. No ano de 1874, apenas 846 imigrantes haviam chegado à província, dos quais um oitavo radicou-se em Porto Alegre, espalhando-se os demais em colônias já existentes ou em velhos núcleos populacionais.

Luiz Kraemer Walter, agente intérprete do governo e que atendia ao setor do povoamento, queixava-se de que nesse ano quase nada se fizera, ao passo que as correntes imigratórias para os países platinos ou para os Estados Unidos tinham seu fluxo engrossado consideravelmente. Em seu relatório cita ainda a situação lamentável das colônias de Conde D’Eu e Santa Isabel, apesar de situadas à beira de uma das melhores estradas para a riquíssima região de Vacaria. Informava também o insucesso da colônia, tão segregada de outros núcleos habitados.


Em 1875, no entanto, começaram a fluir os imigrantes italianos ao Planalto, atraídos pela esperança de uma nova vida num mundo novo. No dia 20 de maio de 1875, na parte sul do atual município de Farroupilha, a 8 km da cidade atual, penetravam os colonizadores – as primeiras famílias, vindas de Olmate Monza, foram as de Estevão Crippa, Luiz Sperafico e Tomaso Radaelli.

Penetrando a região inexplorada, encontraram a casa de um índio semi-civilizado, que chamavam de “Luiz Bugre”. Os mantimentos eram adquiridos com verba fornecida pelo governo para tal fim e comprados na povoação de Feliz, no município de Caí, a 30 km do local onde acamparam. O primeiro ano foi difícil. Outras famílias que chegavam eram apavoradas pela mata, pelos animais hostis, pela ameaça latente de ataques indígenas, pelo afastamento dos centros maiores. Então, retiravam-se, preferindo outras regiões mais amenas, inclusive deslocando-se até a Argentina.

Apenas essas três famílias permaneceram. Às vezes, tinham por alimento somente o pinhão nativo, tirado do alto dos pinheiros, mas, assim mesmo, lutavam contra a natureza bruta tentando iniciar a agricultura.



O ano seguinte, 1876, marca a construção de um barracão para novas levas migratórias por parte do governo. O local foi denominado “Barracão”. Nessa mesma época, chegou um grupo de Vicenza, denominando o local de “Nova Vicenza”, que em breve se tornaria um próspero núcleo populacional em virtude de estar na conjunção da estrada que ligava as colônias de Caxias do Sul, à qual pertenciam Conde D’Eu e Princesa Isabel. A 20 de junho de 1890 foi dado como distrito.



Em 1910, chegava próximo à localidade a estrada de ferro que ligava Caxias do Sul à capital do estado. Embora a povoação já contasse com um bom número de casas e a estrada passasse em local completamente coberto de matas, à beira da mesma estabeleceram-se casas comerciais, provocando, assim, um deslocamento do povoado.

Nova Vicenza, em 1927, por ato municipal de 31 de dezembro, tornou- se, então, sede do 2º distrito de Caxias do Sul. A partir dessa data, lenta e timidamente de início, mais forte depois, a idéia emancipacionista criou-se, irradiando-se de Nova Vicenza para as populações vizinhas. Em 1929 a região contava com 13 mil habitantes aproximadamente. Então, pelo decreto estadual nº 5779, de 11 de dezembro de 1934, o interventor federal José Antônio Flores da Cunha elevou-a à categoria de município, com a denominação de “Farroupilha”, cujo território compreendia o segundo e sexto de Caxias do Sul, o terceiro de Bento Gonçalves e o nono de Montenegro.

A denominação de Farroupilha foi tomada em homenagem ao Centenário da Revolução Farroupilha, que seria comemorado no ano seguinte no estado. Às 10 horas do dia 29 de dezembro de 1934, instalava-se o município, sendo aberta a sessão pelo prefeito nomeado, Armando Antonello, contando com a presença de altas autoridades.


Temos em Farroupilha um dos mais belos exemplos de trabalho do imigrante, que, chegado a uma zona de mata virgem, modificou a fitogeografia, todo panorama natural, dedicando-se tão intensivamente às tarefas agrícolas que, pode-se dizer, não há palmo de chão que não esteja semeado e produzido.
(Disponível: http://www.farroupilha.rs.gov.br/)
-

Figura 1 – Nova Vicenza - Rua do Comércio (1934)

Figura 2 Farroupilha, RS-2003 (ex-Nova Vicenza)


1.3  Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio
-
                        Figura 3 Santuário de  Nossa Senhora do Caravaggio. Farroupilha, RS
-
Caravaggio – Os primeiros moradores de Caravaggio procediam de Dona Isabel, vindos pela Linha Palmeiro e chegados em 1877. Eles logo trataram de construir uma rústica capelinha e nela colocaram um ícone, uma imagem de N. Sra. do Caravaggio, que tinham trazido da Itália. O ano de 1879 marca o início da devoção à virgem de Caravaggio no Rio Grande do Sul. Foi o primeiro santuário que surgiu na colônia italiana e atualmente é procurado por milhares de fiéis. (P. Antonio Domingos Lorezatto, Os vênetos, 1999, p. 176).
-
1.3.1 Santuário antigo reserva emoção aos visitantes
-
A velha matriz, ou “Capela dos Ex-Votos”, como é mais conhecida atualmente, merece uma atenção especial dos que visitam o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio.


No cunho histórico, foi inaugurada em 1890 pelos imigrantes que povoaram a então linha Palmeiro, que pertencia à colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves/RS).

Numa época em que as casas eram fabricadas em madeira ou pedra, eles improvisaram uma olaria para fazer os tijolos. Pedras só no campanário, que abriga um relógio, fabricado por Augusto Rombaldi no ano de 1900, e três sinos, importados da Itália, que, segundo os moradores mais antigos da comunidade de Caravaggio, ao longo dos anos têm afastado as chuvas de pedra da região com o seu som. O pintor Cremonese fez a decoração interna, que pode ser apreciada até os dias de hoje.


A estrutura conserva a originalidade nas portas pesadas com maçanetas muito antigas, na pintura das paredes com imagens sacras, nos bancos de madeira, nos oratórios e salas de confissão e, principalmente, nos altares de madeira, onde estão algumas imagens que datam do início da construção. Na igreja, os peregrinos podem ouvir a história da aparição e da fundação do santuário num sistema de som.


Bem mais que apenas história, a Capela dos Ex-Votos também representa a esperança de todo um povo. A sua maior riqueza está nos milhares de objetos – conhecidos como “votos” – deixados por fiéis ao longo dos anos nas salas da igreja. Numa análise superficial, os agradecimentos são relativos a graças alcançadas pela saúde. Os que mais se destacam são fotos com dedicatórias singelas e pessoais a Nossa Senhora de Caravaggio, encontradas em todas asparedes e nas duas salas antes usadas como sacristia.


A quantidade de objetos curiosos, imagens de santos, quadros, cartas, luvas, bonés, roupas, placas de mármore com dedicatória, sapatos e coletes ortopédicos, bengalas, muletas, aparelhos de correção, pernas e braços de gesso, capacetes, escadas de ferro, bicos, pulseiras, escapulários, terços, placas de automóvel e, inclusive, cruzes é bastante significativa. A Capela dos Ex-Votos ainda guarda o mistério de um exorcismo que teria acontecido há alguns anos no local.
(Disponível em: www.santuáriodecarravaggio.org.br).
-
Fonte: www.farroupilha.rs.gov.br

Figura 4 – A velha matriz, ou Capela dos Ex-Votos
-
1.4. Dom Carmine Fasulo – primeiro pároco de Caravaggio


O pequeno trecho abaixo, extraído do Livro Cinquantenario della colonizzazione italiana nel Rio Grande del Sud, p. 76-77, v. I, revela fato merecedor de ser aqui lembrado. É que dois dos descendentes de Giovanni Grenvil, os filhos Pietro e Osvaldo, tiveram como celebrante do casamento de ambos o sacerdote dom Carmine Fasulo, que foi o primeiro pároco de Caravaggio.

Caravaggio


De D. Izabel os emigrantes foram à frente pela Linha Palmeiro, chegando em 24 de dezembro de 1876 em São Marco e, no prin- cípio de 1877, a Caravaggio.

As famílias que se estabeleceram nesses dois setores eram, em sua maior parte, de belluneses, udineses, trevisans e mantovanis. A primeira missa em Caravaggio foi celebrada por D. Giovanni Menegotto, padre de D. Izabel (a qual tinha jurisdição até este pon- to), na casa particular de Antonio Franceschet.


Logo após construído o cemitério e edificada uma pequena igreja de madeira, que, subseqüentemente, foi aumentada. Nesse pobre oratório começou a ser venerada a madonna di Caravaggio.


Graças a diversas curas realmente extraordinárias, pouco a pouco numerosos fiéis, não só dos lugares próximos, mas, ultimamente, também de municípios mais remotos, chegam para pedir os favores da B. Vergem, principalmente os relacionados com as suas doenças.


Pendurados nas paredes da igreja se podem ver 12 escritos de agradecimento de graças que receberam. De modo que se pode dizer que a igreja de Caravaggio é o primeiro santuário da colônia italiana, consagrada para devoção dos nossos imigrantes. 

Antes de 1886, estabeleceu-se em Caravaggio, por poucos meses, D. Matteo Pasqualli; depois dele, vieram o vigário de D. Izabel e também D. Augusto Finotti de Nova Trento.


A igreja atual foi construída de 1889 a 1890 e, quando o Mons. Claudio Jose a visitou, em 1892, prometeu enviar um padre.


De fato, no dia 14 de março de 1893, foi escolhido D. Carmine Fasulo e nomeado oficialmente no dia 12 de maio seguinte, data em que foi criado o Curato.

Italiano
Caravaggio

Da D. Izabel gli emigranti si spinsero avanti per la Línea Pal- meiro, arrivando il 24 dicembre 1876 a S. Marco e sul principio del`77 a Caravaggio.
Le famiglie che si stabilirono in questi due settori la più parte sono bellunessi, udinesi, trevisane e mantovane.

La prima Messa a Caravaggio fu celebrata da D. Giovanni Mene- gotto, pároco di D. Izabel (la cui giurisdizione si stendeva fino a questo punto) nella casa particolare di certo Antonio Franceschet. Poco dopo fu edificata nel cimitero una chiesetta de legno che posteriormente venne ingrandita. In questo povero oratorio co- minciò ad esser venerata la Madonna di Caravaggio.

Diverse grazie e cure veramente straordinarie poco a poco numerosi fedeli, non solo dalle localitá vicine, ma anche ultima- mente dai paesi più remoti delo Stato, per chiedere i favori della B. Vergine principalmente nelle loro infermità.
Appese alle pareti della chiesa si vedono scritti pure 12 rigraziamenti per grazie ricevute. Di modo che si può dire che la chiesa di Caravaggio è il primo Santuario dela colonia italiana consacrata dalla devozione dei nostri coloni.

Prima del 1886, si stabilì a Caravaggio, ma per pochi mesi, D. Matteo Pasqualli, dopo il quale veniva il vicario di D.Izabel e anche D. Augusto Finotti di N. Trento.

L`attuale chiesa fu construita dal 1889 al`90 e visitata da Mons. Claudio Jose nel 1892, il quale promise allora mandarvi um sa- cerdote. Diffatti il 14 de marzo 1893 vi giungeva D. CARMINE FASULO, nominato ufficialmente il 12 maggio seguente, data in cui venne pure creata la Curazia.

Tradução livre do autor e Dirce Martinelli
-
1.5 Razões da emigração



Os questionamentos feitos de um líder anônimo italiano a um ministroda Itália da época, a seguir transcritos, fornecem uma idéia das razões pelas quais os italianos resolveram aventurar-se pelas Américas.

Português

“Que coisa entendeis por uma nação, Senhor Ministro?

É a massa dos infelizes?

Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco.

Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho.

Criamos animais, mas não comemos a carne.

Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonar a nossa pátria?

Mas é uma pátria em que não se consegue viver do próprio trabalho?”

Italiano

“Che cosa Lei capisce per uma nazione, Signore Ministro?

È la massa degli sfortunati?

Piantiamo e noi raccogliamo il grano, ma non proviamo mai pane bianco.

Noi coltiviamo la vite, ma non beviamo il vino.

Noi creiamo gli animali, ma non mangiamo la carne.

Nonostante voi ci consigliate a non abbandonare la nostra pátria?

Ma è una patria dove non si riesce da vivere del proprio lavoro?

Fonte: Internet Lea Beraldo – sem indicação da fonte www.imigrantesitalianos.com.br.

Versione libera: autore e Dirce Martinelli
-

1.6 Fome e o caos na origem da emigração
-
A emigração italiana foi provocada por fatores eminentemente econômicos, decorrentes, entre outros, do crescimento demográfico na Europa, que, no período de 1815 a 1914, saltou de 180 milhões para 450 milhões.

Ainda na década de 1860, antes de concluída a unificação da Itália, ocorrida em 1870, época em que começou a emigração maciça, apresentava suas peculiaridades. A supressão das alfândegas regionais, a oferta de produtos industriais a preços reduzidos e o desenvolvimento das comunicações haviam destruído a produção artesanal, atingindo os pequenos agricultores, que complementavam a sua renda com o trabalho em indústrias artesanais existentes no campo.

A unificação alfandegária – que impôs a toda a Itália o sistema alfandegário da Sardenha, que tinha as taxas mais baixas – fez com que as economias regionais, que, até então, mais ou menos fechadas, conseguiam manter um certo equilíbrio, sofressem um violento baque.
Também a disparidade econômica entre o Norte, que se industrializara mais cedo, e o Sul, mais agrícola, agravou o quadro econômico do país. O governo italiano tomava medidas impopulares, como o imposto sobre a farinha, que atingiu duramente os pobres. Nas décadas de 1870 e 1880, várias decisões dessa ordem aumentariam os problemas.

A situação, do ponto de vista do pequeno agricultor, era caótica. A pequena indústria artesanal que complementava a sua renda tinha sido destruída; os impostos estavam elevados; os minifúndios eram cada vez menores e a solução era apelar para a passarinhada. Caçar passarinhos tornou-se a única alternativa para ingerir proteínas de origem animal; aumentou também o consumo de pratos à base de milho, como a polenta. Com uma dieta alimentar desequilibrada, os camponeses tornaram-se subnutridos e fracos e começaram a sentir o peso da visitante que sempre acompanha a miséria: a doença. Cresceu o número de casos de malária e de pelagra (avitaminose causada pelo consumo quase que exclusivo de milho). A alternativa, então, foi emigrar.

Dessa tradição vem o gosto pela caçada e pela passarinhada entre os descendentes rio-grandenses dos primeiros imigrantes, tanto que polenta e osei era, nos tempos da grande imigração, um dos refrãos cantados na zona colonial para marcar pontos nas apostas: “Cinque: In punto. Galina magra no fá unto. Sei. Polenta e osei” (FRANCO, 1943, p. 65).

As principais razões que levaram um grande número de italianos a emigrar foram o crescimento populacional e o processo de unificação do país. A guerra, por si, já traz um processo de destruição; antes do aparecimento dos automóveis e caminhões, trouxe um problema inerente: o abastecimento. A alimentação dos soldados era conseguida através de doações da população do local onde estavam acampados, ou simplesmente através de saques, seja da colheita, seja dos animais. Regiões próximas dos campos de batalha eram pilhadas, deixando, muitas vezes, a população local sem ter o que comer. Além disso, a permanência das tropas inviabilizava o plantio.

O Norte da Itália sempre foi palco de disputas territoriais, seja com os países vizinhos, seja no processo de unificação. A campanha de Napoleão na Itália antecedeu a guerra pela unificação. As freqüentes guerras que Treviso (acrescente-se Belluno e todo o Norte da Itália) sustentou por sua libertação trouxeram pobreza e ruína à província.

Numa região tão envolvida em batalhas, não é de se estranhar que, embora a maioria da população trabalhasse no campo, muitas vezes não houvesse o que comer. A maior parte dos italianos que emigraram para o Brasil veio do Norte. De 1876 a 1886, 65% dos imigrantes procediam do Vêneto, do Piemonte e da Lombardia. Considerando o período de 1876 a 1920, um terço do total de imigrantes italianos veio do Vêneto. Os primeiros imigrantes vieram preencher as lacunas de mão-de-obra em fazendas já existentes.

Apartir de 1893, 90% dos que chegavam eram destinados às novas fazendas do Oeste paulista.

A situação dos camponeses europeus era crítica; por isso, a propaganda brasileira encontrou lá um terreno favorável. A canção “Itália bella, mostrati gentile”, provavelmente do final do século XIX, mostra o espírito dos camponeses italiano quanto a sua situação: Itália bela mostre-se gentil  e os filhos seus não a abandonarão, senão, vão todos para o Brasil, e não se lembrarão de retornar.

Aqui mesmo ter-se-ia no que trabalhar

Sem ser preciso para a América emigrar.

O padre Ulderico Dall`ó, em relato no livro de genealogia da sua família, originária, como a dos Grenvil/Balbinot, da província de Belluno, conta: “A Itália na época da emigração da família DALL´Ó era pobre. Era um país agrícola. Ainda usavam arado com prego. A maioria nascia, crescia e morria praticamente sob o mesmo patrão. Viviam, como se diz, à sombra do mesmo campanário”.

Havia pouquíssimas escolas, pouquíssima renda familiar, muita fome e, conseqüentemente, muitas doenças. Os patrões eram maus e muito sovinas e só abriam a mão “se cortassem o pulso”, o que originou uma “modinha” do que passava o agregado:

Botiro non ghin tiro Formaio non ghin taio Puina pochetina

Late fin alle culate

Português: Manteiga não tiro Queijo não corto

Requeijão um pouquinho

Soro até o pescoço

Leite até os quadris

(era até onde chegava o balde)

Com essa crise e nessa situação não era mais possível viver dignamente. O dizer na Itália era: “ou roubar ou emigrar”. A opção mais viável e difícil era sair da Itália. Há italianos em todas as nações do mundo, especialmente nas Américas.

A imigração italiana para o Rio Grande do Sul começou em 1875. O primeiro barracão de alojamento foi em Nova Milano, município de Nova Vicenza, hoje Farroupilha. O destino dos imigrantes italianos era a Serra do Noroeste, nas montanhas, porque as terras planas ficaram para os imigrantes alemães no vale do Rio dos Sinos no ano de 1824.

A única saída era vir para a América, “far la Merica”, quer dizer, “fazer a fortuna”. “Vamos arriscar”, diziam, “tentemos a sorte”. O desejo era ter a terra, casa e comida, confiança em si e fé em Deus. É oportuno transcrever o que diz Antonio Domingos Lorenzatto (p. 205-206) ao concluir, depois de outras considerações, sua belíssima obra Os vênetos nossos antepassados:

Se Deus, passados 120 (hoje 126) anos da presença dos Vênetos e dos Italianos em terras brasileiras, enviasse novamente o profeta Ezequiel e lhe ordenasse profetizar (capítulo 37) nos cemitérios, onde repousam as ossadas dos imigrantes, e esses ressurgissem, certamente não reconheceriam mais a terra, os lugares onde chegaram e choraram de saudades, onde cantaram param afugentar a nostalgia da pátria, onde sofreram, onde derramaram suor e lágrimas. ...Enfim, essas ossadas tornadas vivas, tenho certeza, julgariam estar noutro mundo, não reconheceriam mais os locais onde viveram, tão grande foi a transformação operada por eles mesmos e seus dignos descendentes. Rejeitados pela própria pátria-mãe, eles tiveram de partir para o desconhecido e, pelo pioneirismo, espírito desbravador, ordem e trabalho, fizeram prosperar a terra adotiva, mas também honraram e tornaram conhecida a longínqua pátria-mãe.

1.7. A história dos imigrantes italianos
-
Este trabalho não tem o objetivo de relatar todas as peripécias de que foram vítimas nossos antepassados já a partir da Itália. Muito já foi escrito sobre o tema e muito ainda seria preciso escrever para passar a limpo toda a história sobre a saga dos imigrantes italianos.

Em seqüência, transcrevo o que disse o bispo João Baptista Scalabrini, que viveu justamente no período da migração em massa dos italianos para as Américas e para o mundo. Talvez tenha superestimado a população na Itália, que, no ano de 2000, ultrapassaria a cem milhões. Na verdade, hoje, não chega aos 58 milhões. Talvez sua previsão se confirmasse uma vez que, depois de sua morte, em 1905, a emigração continuou até 1914.
-
1.7.1. A migração vista por Scalabrini

   João Baptista Scalabrini nasceu em Fino Mornasco, província de Como (Itália), no dia 8 de julho de 1839. Terminado o curso de Filosofia e Teologia no Seminário de Como, recebeu a ordenação sacerdotal em 30 de maio de 1863. Nos primeiros anos de sacerdócio, foi professor e, depois, reitor do seminário; em seguida, assumiu a paróquia de São Bartolomeu.

Com apenas 36 anos de idade foi consagrado bispo de Placência, no dia 30 de janeiro de 1876.

Impressionado, desde o início do seu episcopado, com o desenrolar dramático da emigração italiana, Scalabrini fez-se apóstolo dos milhões de italianos que abandonavam a própria pátria. Definido por Pio IX “apóstolo do catecismo”, quis que este fosse ensinado em todas as paróquias, incentivando a catequese dos adultos. Fundou a primeira revista catequética italiana.

(www.vaticano.va/news_serviços).
a) As dimensões e as causas
“Eram migrantes”. Há vários anos, em Milão, fui expectador de uma cena que deixou em meu espírito uma impressão de profunda tristeza.

Passando pela estação, vi a vasta sala, os pórticos laterais e a praça adjacente invadidos por trezentos ou quatrocentos indivíduos, vestidos pobremente, divididos em diversos grupos.

Em suas faces bronzeadas pelo sol, sulcadas por rugas precoces que a privação costuma imprimir, transparecia o tumulto dos afetos que agitavam seus corações naquele momento.

Eram velhos curvados pela idade e pelas fadigas, homens na flor da virilidade, mulheres que carregavam ao colo suas crianças, pequenos e jovens, todos irmanados por um único pensamento, todos orientados para uma meta comum.

Eram migrantes. Pertenciam às várias províncias da Alta Itália e esperavam, com ansiedade, que o trem os levasse às margens do Mediterrâneo e de lá para as longínquas Américas, onde esperavam encontrar a fortuna, menos desfavorável, e a terra menos ingrata aos seus suores.

Aqueles pobrezinhos partiam. Alguns chamados por parentes que os haviam precedido no êxodo voluntário, outros sem saber precisamente para onde seriam levados, atraídos por aquele instinto forte que faz os pássaros migrarem. Iam para a América, onde ouviam repetir tantas vezes que havia trabalho, bem pago, para quem tivesse braços vigorosos e boa vontade.

Eles, em lágrimas, tinham dito adeus ao povoado natal, ao qual os ligava tantas lembranças agradáveis; mas, sem saudade, dispunham-se a abandonar a pátria. Pois eles não a conheciam, senão sob duas formas odiosas: o alistamento e o cobrador de impostos. Para o deserdado, a pátria é a terra que lhe dá o pão: lá longe, longe, esperavam encontrar o pão, menos escasso, menos suado. Parti comovido. Uma onda de pensamentos tristes me amargurava o coração. Quem sabe que cúmulo de desgraças e de privações faz parecer-lhes doce um passo tão doloroso!...

Quantos desenganos, quantas novas dores lhes prepara o futuro incerto! Quantos sairão vitoriosos na luta pela existência? Quantos sucumbirão entre os tumultos das cidades ou no silêncio das planícies inabitadas? Quantos, embora encontrando o pão do corpo, sentirão a falta do pão da alma, não menos necessário que o primeiro, e perderão numa vida toda material a fé de seus pais?

Desde aquele dia, a mente me transportava freqüentemente para aqueles infelizes, e aquela cena relembra sempre outra não menos desoladora, não presenciada, mas percebida nas cartas dos amigos e no relacionamento com os viajantes. Eu os vejo embaraçados em terra estrangeira, no meio de um povo que fala uma língua que eles não entendem, vítimas fáceis da especulação desumana.

Vejo-os banhar com seus suores e com suas lágrimas um solo ingrato, uma terra que exala miasmas pestilentos; arrebentados pelas fadigas, consumidos pela febre, a suspirar em vão, pelo céu da pátria distante e pela antiga miséria do casebre nativo e finalmente sucumbir, sem que a saudade de seus caros os console, sem que a palavra da fé lhes mostre o prêmio que Deus prometeu aos bons e aos desventurados. E aqueles que triunfam na rude luta pela existência, ei-los lá do seu isolamento, esquecer completamente toda noção sobrenatural, todo preceito da moral cristã e perdem cada dia mais o sentimento religioso, não alimentado pelas práticas de piedade e deixam que os instintos brutais tomem o lugar das aspirações mais elevadas.

Diante de tão lamentável estado de coisas, eu me faço constantemente a pergunta: como remediar isto? E todas as vezes que me acontece ler nos jornais qualquer circular do governo que coloca as autoridades e o público de sobreaviso contra as artes de certos especuladores, os quais fazem verdadeiros saques de escravos brancos, para empurrá-los, cegos instrumentos de ávidas coças, longe da terra natal, com a ilusão de fáceis e abundantes lucros; quando, das cartas dos amigos ou das relações dos viajantes observo que os párias migran- tes são os italianos, que os trabalhos mais vis, se é que possa existir vileza no trabalho, são feitos por eles, que os mais abandonados, e portanto os menos respeitados, são os nossos patriotas, que milhares e milhares de nossos irmãos vivem, quase sem defesa da pátria distante.

Sinto-me humilhado na minha qualidade de sacerdote e de italiano, e me per- gunto de novo: como ajudá-los?

Também, há poucos dias, um distinto viajante me trazia a saudação de várias famílias dos montes placentinos, acampados às margens do Orenoco: “Diga ao nosso Bispo que lembramos sempre e de seus conselhos, que reze por nós e que nos mande um padre, porque aqui, se vive e se morre como animais...”

Aquela saudação dos filhos distantes soara para mim como uma reprimenda...
“Um dos fatos mais importantes da vida moderna italiana”.

Um dos fatos mais importantes da vida moderna italiana é a sua migração. Importante pelo número, pelas questões sociais que envolve, pelo mal-estar econômico que estimula.

Segundo os cálculos estatísticos, os italianos migrantes que vivem atualmente nas Repúblicas Americanas ultrapassam o número de dois milhões. Mais de um milhão de Repúblicas do Sul, quatrocentos mil aproximadamente no Brasil, e o resto nas vastas partes da América e sobretudo ao Norte. Somente a cidade de Nova Iorque conta 85 mil.
No decênio 1880-1890 ultrapassaram os confins do Reino, dois milhões de habitantes – um milhão pela migração temporária, verdadeiro fluxo e refluxo de pessoas que oferece aos trabalhos da Europa, a mão-de-obra inteligente e zelosa dos nossos operários, que trazem para a pátria honra e dinheiro; e um milhão de migração permanente – ou seja, gente que vai além-oceano, com a esperança, quase sempre frustrada, de retornar e se espalha nas jovens Repúblicas Americanas, ao Sul e ao Norte, nas cidades populosas, nos pampas desertos e nas florestas virgens, levando em toda parte uma atividade, sempre

apreciada e considerada [...].

Estas cifras não têm necessidade de longo comentário. Elas falam clara e rigorosamente, que no biênio 87-88 saiu maior número de cidadãos do Reino da Itália, que da França, dos Países Baixos, da Espanha, de Portugal, da Áustria, da Bélgica, da Dinamarca, da Suíça juntos.

Dizem que a nossa migração é o quádruplo da Rússia, o triplo da Alemanha, que tem uma notável migração em alguns milhões, superior à do Reino Unido, que tem colônias florescentes e negócios em todas as partes do mundo

“Um fenômeno que tem todas as características de um fato permanente”.

As cifras expostas são enormes, mas o fenômeno migratório parece não ter chegado ao seu ápice, pois, apesar das dificuldades colocadas pela lei vigente, quase há dois anos, limita o trabalho dos agentes de migração; apesar dos desenganos e dos gritos de dor, que, de tanto em tanto, atravessando o Atlântico, nos fazem estremecer e corar, enfim, malgrado as proibições governativas, o êxodo doloroso continua.

Ó Senhores, acontece que a migração italiana, que foi e continua sendo aumentada, especialmente pelas nossas tristes condições agrárias, que foi e é estimulada, além das medidas, pelos agentes de migração e pela necessidade de braços para substituir os escravos libertados no Brasil, responde, por seu conjunto, a uma verdadeira necessidade do povo italiano, e será em relação com o aumento anual da sua população.

Portanto, não se trata de um fenômeno passageiro, mas de um fenômeno que têm todas as características de um fato permanente. O italiano é um dos povos que tem maior aumento anual de população. Aumenta, na proporção de onze ou doze mil, superado nisto unicamente pela Holanda, que se avantaja pelo excedente dos nascimentos sobre as mortes, de treze por mil.

É por isso que, apesar da considerável migração, a população do Reino aumenta, e dentro de poucos anos, as nossas belas terras terão um máximo de densidade. Segundo cálculos exatos, aumentando a população, como nos últimos vinte anos, os italianos, dentro de um século, serão cem milhões.

Admitindo também, em conseqüência de uma ampla colonização interna, poder hospedar dentro dos limites do Reino, outros dez milhões, chegará assim a quarenta ou cinqüenta milhões. Na Itália, se todas as suas regiões tivessem a densidade da população da Lombardia – teremos sempre um imenso povo de outros cinqüenta milhões, que se espalhará, no século futuro, pelo mundo, impelido por uma força à qual, em vão se resiste: a luta pela sobrevivência.
Cinqüenta milhões de italianos, ó senhores, dispersos sobre a face da terra, como folhas arrebatadas por um turbilhão.

“A migração é um fato natural e uma necessidade invencível”.

A migração é um fato natural e uma necessidade invencível. É uma válvula de segurança dada por Deus a esta sofrida sociedade. É uma força conservadora, muito mais poderosa que todos os compressores morais e materiais, inventa- dos e colocados em ação pelos legisladores, para tutelar a ordem pública e para garantir a vida e os bens dos cidadãos.

É conhecido o provérbio: “maldita fome”. Quem poderia reter um povo que desencadeia sob as convulsões do ventre, se não tivesse a esperança de encontrar, em outro lugar, o pão quotidiano?

Portanto, àqueles que, ao considerar as misérias ocasionadas pela migração, exclamam serenamente: “Por que, tanta gente migra?” É fácil responder. A migração, na quase totalidade dos casos, não é prazer, mas uma necessidade invencível.

Sem dúvida, existe, também, entre os migrantes pessoas más, vagabundas e viciadas. Estes são em número menor. A grande maioria, para não dizer a totalidade dos que abandonam a pátria, para ir para a longínqua América, não é desta têmpera. Não fogem da Itália, por aversão ao trabalho, mas porque este lhes falta e não sabem como viver e manter a própria família.

Um excelente homem, cristão exemplar de um povoado de montanha, onde me encontrava, alguns anos atrás, em visita pastoral, veio pedir-me uma bênção e uma pequena lembrança para si e para os seus, que partiam para a América. Às minhas observações, ele colocou tão simples, quanto doloroso dilema: “ou roubar ou migrar”.

“Roubar não devo, nem quero, porque Deus e a lei me proíbem ganhar aqui o pão para mim e para meus filhos não me é possível. Que fazer então? Imigrar é o único recurso que me resta.”

Não soube acrescentar nada. Abençoei-o comovido, recomendando à proteção de Deus e me convenci, uma vez mais, ser a migração uma necessidade que se impõe, como remédio supremo e heróico, ao qual é necessário submeter-se, como o paciente submete-se à dolorosa operação, para evitar a morte.

A religião e a migração, eis os dois únicos meios que poderão, no futuro, salvar a sociedade de uma grande catástrofe. Uma enviando a outros continentes o excesso da população, a outra consolando, com caras esperanças, a desesperada dor dos infelizes.

b) O direito natural de migrar

“Um direito sagrado”.
Aqueles que desejariam impedir ou limitar a migração, em nome de considerações patrióticas e econômicas, e os que a desejam, em nome de uma mal com- preendida liberdade, abandonada a si mesma e sem guia, ou não raciocinam absolutamente, ou raciocinam como egoístas e como despreocupados. De fato, impedindo-a, transgride-se um sagrado direito humano; abandonando-a a si mesmo, torna-se ineficaz.

Os primeiros esquecem que os direitos do homem são inalienáveis e que o homem tem direito de ir em busca do seu bem-estar, onde mais lhe agrada.

Os segundos, que a migração, força centrífuga, pode se tornar, quando bem orientada, uma poderosa força centrípeta. De fato, além de trazer alívio aos que ficam, com a redução de concorrência dos braços e com novas aberturas ao comércio, torna-se de grande proveito, conquistando influências e devolvendo sob mil formas, os tesouros de atividade subtraídos momentaneamente, a nação [...].

Discutir teoricamente se a migração é um bem ou um mal é inútil, sendo suficiente à minha finalidade constatar a sua existência. Depois das pesquisas que fiz, para recolher dados estatísticos e os fatos que servem de base para este meu breve trabalho, e nas conversas familiares, percebi uma grande confusão de idéias, sobre este assunto, não só entre a burguesia e os particulares, mas também entre jornalistas e pessoas que se dedicam ao Estado. Estas considerações, não são inteiramente inoportunas.

Principalmente os proprietários de terras, onde a migração dos camponeses é mais numerosa, preocupados por este repentino empobrecimento de braços, que se traduz em um adequado aumento de recompensa, para os que ficam, levaram ao Governo suas queixas e por meio de deputados e de associações, pediram providências, “para sanar e limitar este vírus moral, esta deserção, que despoja o pais de braços e de capitais frutíferos, que faz romper os pactos colo- niais e deixa após de si a apatia e a insubordinação sem nenhuma vantagem, para os migrantes. Os camponeses desprovidos de capitais e de conhecimentos serão sempre e em todo lugar proletários. E a miséria da qual tentam fugir, abandonando a pátria, acompanhá-los-á, como a sombra a seu corpo, acrescida de novas necessidades e pelo isolamento”. (Atos parlamentares, sessão de 12 de fevereiro de 1879).

Como cada um pode facilmente perceber, estas razões e estes conselhos se inspiram mais no interesse dos abastados que ficam, que nas necessidades dos míseros que são forçados a partir. Se a autoridade lhes desse fácil ouvido e baseasse sua obra em tais sugestões, faria coisa inútil, injusta e danosa. Inútil, porque nunca chegaria a suprimir a migração. Injusta, porque injusto e tirânico é todo ato que coloca obstáculo ao livre exercício de um direito. Danosa, porque a migração tomaria outro rumo, que não o natural, como aconteceu todas as vezes que o governo, por um mal entendido espírito de patriotismo, tornou difícil a migração.
“A migração deve ser espontânea”.
Se os agentes de migração fossem, como parece acreditar o deputado De Zerbi na sua relação, nada mais que simples intermediário, isto é, homens de confiança entre as várias Sociedades de Navegação e os migrantes e limitassem o seu trabalho a dar esclarecimentos sobre o modo e sobre o tempo dos embarques; e as agências, apenas simples sucursais dos escritórios centrais de Navegação, não haveria motivo de preocupação.

A sua ação, embora supérflua, em grande número de casos (pois que aqueles conhecimentos poder-se-ia obter, por quem tivesse interesse, nas vias e praças públicas) também não seria, danosa.

Poderia também, às vezes, ser favorável aos migrantes. Se os agentes fossem orientados, para ajudar os duvidosos, e mostrassem aos pobres sedentos pela miséria, os riachos americanos frescos e estimulantes, como aqueles que no inferno dantesco, faziam extasiar mestre Adão, não seria um fim de mundo, e poder-se-ia fechar um olho e dizer-lhe com Manzoni: vá, vá, pobre engordurado, não serás tu aquele que desfalcará Milão.

Mas a faculdade de fazer alistamento é bem diferente. Os agentes, que usavam destes expedientes quando eram proibidos pelas circulares ministeriais, imaginem se não desejarão lançar mão, ainda mais amplamente, quando por lei será um direito!

Como seqüência natural, as catástrofes, lamentadas rio passado, aumentam à medida da liberdade outorgada, pois a experiência de uma parte neutraliza a sede insaciável de lucro, e a ignorância da outra, ou não conhece a sorte de quem os precederam, ou esperam ser mais afortunados.

As penas aplicadas pela nova lei, para os agentes de migração são severas, e isto é bom. Não serão nunca excessivas contra quem, mais torpe que o ladrão e mais cruel que o homicida, empurra tantos infelizes para a ruína. Quantos des- tes, arrancados de suas casas por falsas promessas, foram para além do oceano em lugares inabitáveis, enleados por mil dificuldades insuperáveis, felizes, se no final conseguem encontrar um pedaço de terra, para morrer em paz! Quantos abandonados em praias desertas, sem roupa e sem pão, consideram grande ventura poder retornar, com o coração desesperado, à terra natal!1

“Liberdade de migrar, não de fazer migrar”.

Liberdade de migrar, mas não de fazer migrar, porque tanto é boa a migração espontânea, quanto é danosa a forçada. Boa, se espontânea, sendo uma das grandes leis providenciais, que presidem os destinos dos povos e o seu progresso econômico e moral. Boa, porque é uma válvula de segurança social; porque abre caminhos floridos da esperança, e algumas vezes, da riqueza, aos deserdados. Porque civiliza as mentes do povo, pelo contato com outras leis e outros costumes. Porque leva a luz do evangelho e da civilização cristã aos bárbaros e idólatras e eleva os destinos humanos, alargando o conceito de pátria, além dos confins materiais e políticos, fazendo pátria do homem, o mundo.

É ruim, se forçada, porque substitui a verdadeira necessidade pela fúria de lucros imediatos, ou um mal entendido espírito de aventura. Porque, despovoando exageradamente e sem necessidade o solo pátrio, em vez de ser um alívio e uma segurança, torna-se um prejuízo e um perigo, criando maior número de inaptos e desiludidos. Enfim é ruim, porque desvia a migração das suas correntes naturais, que são as mais proveitosas e as menos perigosas, e porque a experiência nos ensina ser causa de grandes catástrofes, que podem e devem ser impedidas por um governo civil e previdente.
c) As conseqüências
“Quão amargo o pobre pão do migrante!”

Os perigos que traz consigo tal migração são inúmeros e igualmente inúmeros são os males que a afligem.

Quando eu, há dez anos, acolhi o grito de dor dos nossos pobres migrantes, em um pequeno escrito, que teve eco no coração de todos os bons e apossou-se de todas as classes de pessoas tão consenso de pensamentos e de obras, eu estava longe de grande o cúmulo de males e de perigos aos quais se expõe o pobre migrante.

Tudo, tudo conspira contra ele, seus males freqüentemente começam antes do êxodo do humilde casebre, sob a forma de um agente de migração que determina a sua partida, atraindo-a uma falsa conquista da riqueza e endereçan- do-o para onde agrada e convém ao agente e não para o interesse do migrante. Seguem-se os males ao longo da viagem, freqüentemente desastrosa, e os acompanham na sua chegada aos lugares infestados de doenças terríveis, nos trabalhos aos quais, muitas vezes não se sente apto, sob as ordens de patrões desumanos, por causa da sede insaciável de ouro, ou pelo hábito de considerar o trabalhador um ser inferior.

Assim os males se agravam sob mil ciladas que a maldade lhes prepara, em países estrangeiros dos quais ignoram a língua e os costumes, num isolamento, que freqüentemente causa a morte do corpo e da alma.

Posso citar numerosos fatos que demonstram quantas lágrimas banham e quanto sal tem o pobre pão dos migrantes, atraídos por vãs esperanças ou por falsas promessas.

Encontram uma ilíada de sofrimentos, o abandono, a fome e não poucas vezes a morte onde acreditavam encontrar um paraíso, colorido pela miragem da necessidade: viram o Eldorado, sem pensar que o “simum” violento da realidade desfaz em um momento, as encantadas cidades dos Sonhos! Infelizes extenuados pelo cansaço por causa do clima, pelos insetos, caem desconsolados sobre a gleba fecundada, por seus suores, à margem de florestas virgens, que souberam cultivar não para si, nem para os seus filhos, atingidos pelo micróbio fatal e doce da saudade, talvez sonhando com a pátria, que não soube dar-lhe nem o pão, suplicando em vão ao ministro da santa religião de seus pais, que lhes suavize os terrores da agonia com as imortais esperança da fé.

O quadro não é feliz, mas é a história verdadeira de milhares de nossos patriotas migrantes, como pude colher das relações dos meus missionários e como me é escrita e narrada por quem foi testemunha e participante daqueles tristíssimos êxodos.

Porém, não desejo ser mal entendido ou parecer pessimista. As tristes coisas acenadas não podem ser ditas a respeito de todos os nossos migrantes. Muitísimos deles encontraram nos países hospitaleiros, pão suficiente, muitos bem estar, alguns, riquezas, e no seu conjunto formam colônias das quais a mãe pátria pode se orgulhar. Mas são também muitíssimos os desgraçados e em grande parte o são por causa de sua ignorância e por nosso descuido.2

“Males infinitos, tanto materiais, quanto morais”.

Os perigos que aguardam os migrantes são tantos e tão numerosos que dificilmente um homem, também atencioso, poderia escapar totalmente deles. Que dizer então dos pobres camponeses, que, ignorantes de tudo, confiam em pessoas, que não vêem no migrante senão coisa a ser desfrutada?

Aqueles que lêem jornais devem ter em mente um certo número de fatos ora torpes, ora trágicos, sempre tristes, nos quais os nossos pobres irmãos que migram, aparecem como vítimas.

Alguns anos atrás, os diários públicos falaram de duzentos ou trezentos mi- grantes, que ao chegar ao porto de embarque, não sei, se de Gênova ou de Nápoles, souberam que seu dinheiro, ajuntado quem sabe com que dificuldade, talvez com a venda dos últimos móveis, acabaram nas mãos de um embusteiro. Portando lágrimas, gritos, imprecações e depois o retorno ao povoado nativo,
às custas do Estado.


No início do inverno de 1873, chegou a Nova Iorque, um navio com muitas famílias de camponeses do Abruzzo que foram embarcados pelos agentes de migração, com a promessa de serem levados a Buenos Aires, onde ansiosamente os esperavam parentes e amigos. Aqueles infelizes, que tinham sofrido muito durante travessia, encontram-se em outro lugar, esgotados, bem longe da meta de sua viagem e sem meios, para prossegui-la.

Estas podem ser exceções. Regra geral é o modo como é feito seu transporte. Despachados pior que animais, em números muito maior do que permitiriam os regulamentos e a capacidade dos navios, eles fazem aquele longo e penoso trajeto, literalmente amontoados, com sério problema moral e de saúde.

Que dizer da sorte ainda mais lamentável que os espera, quando chegam à meta suspirada? Freqüentemente enganados com artes dissimuladas, iludidos por mil promessas mentirosas, constrangidos pelas necessidades, se vinculam, com contratos que são uma verdadeira escravidão e as crianças encaminhadas para a mendicância, para o caminho do delito e as mulheres jogadas no abismo da desonra.

As vastas e incultas terras da América do Sul, do Brasil, do Chile foram cedidas com contrato aos migrantes ou diretamente pelos governos, ou pelas sociedades particulares, que conquistaram a propriedade para fins de especulação. E depois de um certo numero de anos, mediante o pagamento de taxas convenientes, o camponês torna-se proprietário do solo fecundado com o próprio suor.

Portanto os colonos armam sua tenda naqueles terrenos incultos, que freqüentemente transformam em sorridentes e férteis campos. Os camponeses, na maioria das vezes, de uma mesma região e algumas vezes de um mesmo povoado, batizam, lá longe, com o nome do lugar de origem, o lugar onde a Providência os lançou.

Se estes agrupamentos podem reduzir os perigos da migração, formando menos triste e mais segura a vida, podem também, se não forem bem orientados, ser causa de infinitos males, tanto materiais quanto morais.

Nossos pobres camponeses correm perigo de serem mandados pelos especuladores a acabar sua vida, em terrenos estéreis e lugares nocivos, mal defendidos dos animais ferozes e de índios. Todas estas coisas já se verificaram mais de uma vez e sobre as quais a imprensa e a opinião pública repetidamente se comoveram.
“Presa fácil da especulação”.
Para onde se dirige esta massa de pessoas, esta enchente de sangue italiano?

É doloroso dizer, mas a maior parte dela não sabe para onde vai. Para eles, a América é o país, para onde se dirigem os que deixam a pátria, em busca de fortuna. Ao Sul ou ao Norte, nas zonas temperadas ou tropicais, em climas sadios ou pestilentos, em terras férteis ou mais estéreis do que as que abandonaram, em centros populosos ou em regiões desertas, eles não sabem. Vão para a Amé- rica, e não poucas vezes com a agravante de um contrato assinado em branco que coloca, a sua pessoa, o seu trabalho a disposição de um patrão qualquer.

Foi assim que os agentes de migração mandaram um considerável número de migrantes para o Brasil, para substituir a mão-de-obra que já era insuficiente para a agricultura, tomando-se completamente deficiente, com a abolição da escravidão. Foi assim que, em Nova Iorque, o chamado sistema dos patrões, condenado com um Bill pelo Senado dos Estados Unidos, aglomerou um ilimi- tado número de migrantes, atraídos para lá por mil promessas, desfrutados indignamente e depois abandonados, para deixar lugar aos recém-chegados, novas vítimas de torpes lucros.

Finalmente, foi assim que no Chile, para silenciar muitos outros casos, encontraram o abandono e a miséria mais de mil de nossos compatriotas, seduzidos a irem para lá, por alegres mentiras.

E como a ignorância e a pobreza tornam nossos compatriotas vítimas fáceis para os agentes de migração, assim lá longe, o isolamento e a miséria os tornam presas fáceis da especulação, sempre e por toda a parte, sem entranhas de piedade, lá mais que em qualquer outro lugar. Por isso, em lugar de trabalho apto e bem recompensado, em vez de abundante e sadia comida, aqueles infe- lizes encontram um trabalho rude, quando o encontram, uma recompensa que, comparada com os esforços, os perigos, ao encarecimento dos gêneros de primeira necessidade, é irrisória, pois encontram o melhor alimento pago a alto preço, freqüentemente com a privação de quanto significa vida civilizada.

“Perdem o sentimento da nacionalidade e o sentimento da fé”.

Quem pode descrever os perigos que encontram nossos pobres migrantes a respeito da vida religiosa? Na imensa maioria, eles vivem lá, sem nunca verem o rosto de um padre e a cruz de uma torre. Portanto, abandonados a si mesmos, ou caem no indiferentismo mais desolador ou abandonam a fé de seus pais.

Aperta-me o coração só de pensar. Segundo cálculos oficiais, em sessenta anos, migraram, em uma grande república Americana, quarenta milhões de católicos. Ora, supondo que vinte milhões, o que nunca se verificou, tenham voltado à pátria, os católicos residentes lá, tendo presente os nascimentos e as mortes, deveriam atingir a cifra de mais ou menos vinte milhões. Ao contrário, segundo o último recenseamento eclesiástico, o seu número, não chega, oito milhões. Onde foram parar os outros doze milhões?

Perderam o sentimento da nacionalidade e com ele, coisa que aperta o coração só de pensar, o sentimento da fé católica. Caem vítimas da propaganda protestante, vítimas infelizes das seitas, lá mais ativas e numerosas, que em outros lugares.
Ah! senhores, permitam a um Bispo chorar diante de vós tanta desventura!

A privação do pão espiritual que é a palavra de Deus, a impossibilidade de se reconciliarem com Ele, a falta de culto e de todo estímulo ao bem, exerce uma influência mortífera sobre a moral do povo. Também o homem instruído está sujeito a tal perigo, mas em menor grau, porque sua educação, sua cultura, o conhecimento teórico da Religião, ajudam de algum modo, a salvá-lo do gelo da indiferença, podendo ele senão de outra forma, associar-se com o pensamento, aos divinos mistérios, que se celebram em outros lugares e nutrir a mente, com leituras morais.

Mas o pobre filho da gleba, como poderia ascender a pensamentos assim elevados? Para ele, mais que para os outros, o conceito da religião é inseparavelmente unido ao do Templo e do Padre.

Onde todo o aparato religioso sensível se cala, ele pouco a pouco se esquece dos seus deveras para com Deus, e a vida cristã no seu espírito enfraquece e morre. Mas não morre nele a sede da verdade, o desejo do infinito. “O homem, diz um moderno filósofo incrédulo, tem naturalmente necessidade de Religião e de Culto. Ele é religioso por natureza, como por natureza é racional, ou melhor ainda ele é religioso porque é racional”. Esta necessidade é tanto mais senti- da quanto menos é possível satisfazê-la. Isto se toca com a mão, em meio aos nossos migrantes, também lá onde, por falta de padre, reina soberano o materialismo mais desprezível. Imaginai quanto esta necessidade deva ser viva naqueles — e são a maioria que ainda experimentam a dignidade do próprio ser, ouvem ainda os apelos de sua consciência.
“Abandonados, longe, sem sombra de assistência religiosa”.

Os pobres camponeses que migram, quando não morrem pelo caminho, ou não sucumbem pelas privações ou pelo desgosto de se verem enganados, pode-se dizer que são abandonados, lá longe, sem sombra de assistência religiosa. É mais fácil imaginar que descrever o seu estado.

[...]

d) O desígnio de Deus

“A migração é um bem e um mal”.

É indubitavelmente um bem, fonte de bem estar para quem vai e para quem fica, verdadeira válvula de segurança social, aliviando o solo do excesso da população, abrindo novos caminhos ao comércio e às indústrias, fundindo e aperfeiçoando as civilizações, alargando o conceito de pátria, além dos limites materiais, fazendo do mundo a pátria do homem; mas é sempre um gravíssi- mo mal, individual e patriótico, quando se deixa caminhar assim sem lei, sem freio, sem direção, sem tutela eficaz: não forças vivas e inteligentes ordenadas à conquista do bem estar individual e social, mas forças que se chocam e freqüentemente se destroem reciprocamente, atividade desfrutada, em prejuízo e vergonha do país de origem.

Não águas capazes de fecundar, mas torrentes sem leito, que perdem o tesouro de suas águas por entre as pedras e os abrolhos, quando não arrastam os campos já fecundados.

“Uma Associação de padroado a um tempo, religiosa e leiga”.

As necessidades a que estão sujeitos os nossos migrantes podem ser divididas em duas classes: morais e materiais, e eu desejaria que surgisse na Itália uma Associação de padroado, que fosse ao mesmo tempo religiosa e leiga, de tal modo que respondesse plenamente a esta dúplice necessidade.

O campo que se apresenta para ação, visto do lado religioso é muito vasto. Mas não é menos vasto, se o considerarmos do lado econômico. De fato, o trabalho da referida Associação deveria ser, como já indiquei, o de prover aos interesses espirituais e materiais dos pobres, que abandonam o lugar de origem para atravessar o oceano, portanto:

1. Livrar os migrantes das especulações vergonhosas de certos agentes de migração, os quais, contanto que ganhem, arruínam material e moralmente os infelizes que caem em suas redes;

2. instituir um escritório que prepare o necessário para a colocação dos migrantes, assim que desembarcarem nos portos das Américas, de modo que toda vez que um italiano se dirigisse à Associação, esta pudesse garantir-lhe uma ocupação útil, ou então, caso contrário, desaconselhá-lo de migrar;

3. prestar socorro, em caso de acidente ou doença, seja durante a viagem, seja depois do desembarque;

4. mover guerra implacável, permita-me a expressão, aos corretores de carne humana, os quais não evitam de usar os meios sórdidos, por causa de lucro vil;

5. promover a assistência religiosa durante a travessia, depois do desembarque e nos lugares onde os migrantes se estabeleceram.


Capítulo II


Síntese de dados sobre a Itália

2.1 Dados gerais

República Italiana (Repubblica Italiana).

Capital: Roma.

Data nacional: 25 de abril (Dia da Libertação).

Geografia: Localização: sul da Europa. Hora local: +4h. Área: 301 302 km2.

Clima: mediterrâneo (S), temperado oceânico (N). Área de floresta: 65 mil km2(1995).

Cidades principais: Roma (2 646 408), Milão (1 307 785), Nápoles (1 020 120),Turim (909 717), Palermo (686 551), Gênova (641 437) (1998).

População: 57,3 milhões (2000); composição: italianos 97,7%, outros 2,3%

(1996). Idioma: italiano (oficial), dialetos italianos, alemão, rético, francês, grego, albanês, sardo.

Religião: cristianismo 83,2% (católicos), sem filiação e outras 16,8% (1980).

Densidade: 190,17 hab/km2. População urbana: 67%(1998).

Crescimento demográfico: 0% ao ano (1995-2000). Fecundidade: 1,2 filho por mulher (1995-2000). Expectativa de vida M/F: 75/81 anos (1995-2000).

Mortalidade infantil: 7% (1995-2000). Analfabetismo: 1,5% (2000). IDH (0-1): 0,903 (1998).

Governo: República parlamentarista. Divisão administrativa: 20 regiões subdivididas em províncias. Chefe de estado: presidente. Chefe de gover-no: primeiro-ministro.

Legislativo: bicameral – Senado, com 325 membros (315 eleitos por voto direto e 10 vitalícios); Câmara dos Deputados, com 630 membros eleitos por voto direto. Ambos com mandato de cinco anos. Constituição em vigor: 1948.

O país: A Itália ocupa a península Itálica, no sul da Europa, e algumas ilhas

do mar Mediterrâneo. Na Antiguidade, a região foi o berço do Império Ro-mano, responsável pela difusão da língua e da cultura latinas pelo mundo.

Roma preserva importantes monumentos do período, como o Coliseu, o Panteão e as ruínas do Fórum Romano.


Figura 5 – Coliseu em Roma - Itália
-
Encravado na capital italiana está o estado do Vaticano, sede da Igreja Católica, instituição com forte participação na vida nacional. Durante o Re-nascimento, o país tornou-se centro de irradiação científica e cultural. As-principais cidades italianas abrigam hoje um patrimônio histórico e artístico de valor incalculável.

Apud: www.brasil-holanda.com/album
-
Figura 6 – Basílica de São Pedro em Roma - Vaticano
-
O país recebe anualmente cerca de 35 milhões de turistas – foi a quarta nação mais visitada no mundo em 1999 – atraídos pela diversidade de paisagens.

Na Itália, há as praias mediterrâneas da Sicília e da Sardenha, as maiores ilhas, bem como as estações de esqui dos Alpes, cadeia montanhosa que forma uma barreira natural entre o norte do território italiano e os países vizinhos.

Uma das principais potências econômicas do mundo, a Itália apresenta grande disparidade interna: o Norte é bastante industrializado, ao passo que o Sul é agrícola e mais pobre, o que provoca movimentos separatistas.

A marca política da sua história republicana é a instabilidade: 58 governos (gabinetes de ministros) já se sucederam no poder desde o final da II Guerra Mundial, em 1945.

2.2 História

O poderoso Império Romano surgiu e expandiu-se a partir da Itália central, na Antiguidade. No século V, com as invasões bárbaras, a península fragmentou-se em Estados independentes. Após dois séculos de domínio de reis lombardos (568-774), o franco Carlos Magno dominou a península e foi coroado imperador romano pelo papa em 800. Entre os séculos XII e XIII, parte da Itália foi controlada pela dinastia germânica Hohenstaufen. Nesse período surgiram poderosas cidades-Estados, como Milão, Pisa, Gênova e Florença, que, junto com o Estado Pontifício, mantêm a hegemonia sobre a península.

Os séculos XIV e XV marcam o apogeu do Renascimento italiano, que marcou as artes e a cultura em toda a Europa na época. Em 1494, o rei francês Carlos VIII conquistou a região, iniciando um período de invasões que perdurou até o século XIX.

Partes da Itália caíram em mãos de franceses, espanhóis e austríacos. Na Sicília, a ocupação estrangeira levou à formação, já na época feudal, da Máfia, organização criminosa baseada em laços familiares, que, no século XIX, controlou a zona rural da Sicília. O Congresso de Viena (1815) dividiu a península Itálica entre os Habsburgos austríacos (Veneza e Lombardia), a casa de Savóia (Ligúria), os Bourbons (Parma, Nápoles e Sicília) e o papado (Estados Pontifícios).

a) Unificação

A unificação da Itália teve início na primeira metade do século XIX, com o

“Risorgimento” (Ressurgimento), movimento liberal e nacionalista. A primei-ra fase do Risorgimento, marcada por revoltas e ações terroristas conduzidas por sociedades secretas, como a dos carbonários, teve como principal figura Giuseppe Mazzini e terminou com a derrota dos republicanos, em 1848.

Na segunda fase, a liderança da unificação foi dividida entre os monarquistas do Piemonte, chefiados por Camilo di Cavour, e as tropas do guerrilheiro republicano Giuseppe Garibaldi. Ajudados pela França, os piemonteses

derrotarem os austríacos no Norte; Garibaldi expulsou os Bourbons de Nápoles e da Sicília.

O novo Estado nasceu em 1861, com a proclamação de Vittòrio Emanuèle II, rei da Sardenha e Piemonte, como soberano da Itália. A anexação de Veneza, em 1866, e dos Estados Pontifícios, em 1870, completou a unificação italiana. Em 1900, com o assassinato do segundo rei italiano, Umberto I, por um anarquista, subiu ao trono Vittòrio Emanuèle III.

O início do século XX foi marcado pelo realinhamento externo do país:em 1915, durante a I Guerra Mundial, a Itália abandonou Alemanha e Áustria-Hungria e passou para o lado da França e Reino Unido.

b) Fascismo

Com o fim do conflito, o país foi sacudido por agitações sociais, a esquerda revolucionária fortaleceu-se e liderou ocupações de fábricas no Norte. A crise econômica levou ao crescimento do fascismo, movimento de massas nacionalista e autoritário. Em 1922, depois de uma marcha de milícias fascistas em Roma liderada por Benito Mussolini, o rei convocou-o para chefiar o governo.

As instituições foram relativamente preservadas até 1929, quando foi estabelecido o regime de partido único, sob o comando de Mussolini. O líder organizou empresários e trabalhadores em corporações controladas pelo Estado.

Greves foram proibidas e várias indústrias, estatizadas. Um programa de obras públicas foi adotado para combater o desemprego. No plano externo, a Itália fascista conquistou a Abissínia (atual Etiópia) em 1935 e 1936 e aliou-se à Alemanha nazista e ao Japão, formando o Eixo. Mussolini declarou guerra à França e ao Reino Unido em 1940, mas as derrotas militares dos italianos na Grécia e na África enfraqueceram sua posição e culminaram com o desembarque dos Aliados na Sicília em 1943.

No mesmo ano, o líder fascista foi deposto e o governo foi entregue ao marechal Badoglio, que firmou a paz com os Aliados e declarou guerra à Alemanha. Hitler invadiu o norte da Itália em apoio a Mussolini, que formou a efêmera República de Salò. Os alemães foram expulsos em 1945 por tropas aliadas auxiliadas por guerrilheiros italianos. Mussolini foi preso e executado em Milão.

c) República

Em maio de 1946, o rei Vittòrio Emanuèle III abdicou em favor do filho, Umberto II. Três semanas depois, um plebiscito decidiu pela implantação da república e a família real foi obrigada a deixar o país. Os comunistas, que tiveram participação decisiva na resistência, tornaram-se uma força política influente, mas a democracia cristã transformou-se no partido dominante.

Beneficiada pelo Plano Marshall (plano de recuperação econômica da Europa patrocinado pelos Estados Unidos), a Itália experimentou um período de crescimento econômico nas décadas de 50 e 60. A nação participou da fundação do Mercado Comum Europeu, atual União Européia (UE), em 1957.

A decisão da democracia cristã de manter-se no poder excluindo os comu-nistas, que formam o segundo partido político italiano, provoca instabilidade permanente. Nos primeiros trinta anos da república, houve 36 gabinetes baseados em coalizões frágeis.

(www.portalbrasil.eti.br/europa)

Figura 7 – Mapa da Itália
-
Figura 8 – Veneto - Itália

Fonte: www.egm.it/comuni
-
Figura 9 – Praça dos Mártires com o teatro Comunale em Belluno - Itália
-
2.3 Belluno


Fonte: Azienda di Promozione Turística
“Belluno, Feltre Alpago”

Português

Assentada sobre uma área elevada, Belluno contempla o vale do Piave, que se abre como por encanto, abaixo do núcleo habitado, protegida por uma coroa de montanhas suavemente cortadas pelo azul do céu.

Do limite ao centro da cidade, o panorama encanta pela riqueza de sua história.

Da Praça dos Mártires à igreja de S. Stefano e ao longo da rua Mezzaterra, à pequena praça das Erbe, tudo é testemunho disso.

Bela e fascinante é a praça do Duomo, na qual estão os palácios adminitra-tivos, dos governantes, dos bispos e a pequena igreja de S. Maria das Gra-ças.

Da praça é possível passar por pequenas estradas para descobrir ângulos sugestivos e fascinantes. E logo fora da cidade se encontram a pequena igreja de S.Pellegrino, a mansão Buzzati e as numerosas mansões rurais de famílias nobres, testemunhos preciosos do Renascimento e do Barroco Bellunese.

Italiano

Affacciata su un balcone naturale Belluno guarda la vallata del Piave che si apre, come per incanto, sotto il suo nucleo abitato, protetta alle spalle da una corona di montagne che dolcemente si stagliano verso l`azzuro del cielo. L`incanto del panorama fa da cornice al centro cittadino ricco di angoli di storia.

Da Piazza dei Martiri ala chiesa di S. Stefano e, lungo via Mezzaterra, alla piazzetta dele Erbe tutto ne è testimonianza.

Suggestiva ed affascinante è piazza del Duomo, su cui si affacciano i plazzi Comunale, dei Rettori, dei Vescovi e la chiesetta di S. Maria della Grazie. Da qui è possibile addentrarsi nelle stradine più interne ala scoperta di an-goli suggestivi e discorci affascinanti.

E appena fuori città, la chiesetta di S. Pellegrino, villa Buzzati e le numerose ville di campagna dele famiglie nobili; preziose testimonianze del Rinasci-mento e del barocco Bellunese.

Tradução: Israel Granville e Dirce Martinelli